ReflexÕes

Encontro Luz Negra - 07.12.2025 (Casa Museu Eva Kablin)

No cabalístico dia 07, desta vez de dezembro, realizamos o Encontro Presencial do Luz Negra com nossa Mestra, Denise Ferreira da Silva, e um tanto de mulheres potentes com suas crias. Mulheres negras, periféricas, quilombolas e aliadas antirracistas deslocaram-se de várias partes da Zona Oeste e de outras regiões para a Zona Sul do Rio de Janeiro. Montamos nossa egrégora na casa da burguesia. Se outrora Eva Kablin cultivava rodas de amigos entre boêmios e artistas, agora foi a vez da Luz Negra irradiar em meio às duas mil peças originais que se encontram em exposição na casa que se tornou Museu em 1995, após sua morte. Fruto de uma parceria potente e de longa data com a atual Diretora Artística-Adjunta da Casa Museu Eva Kablin, Camila Rocha Campos, realizamos um evento lindo, potente e mágico.

Dentre as coisas comunicáveis, destaca-se a provocação de Denise Ferreira da Silva de nos fazer IMAGEAR em meio a todo cenário distópico e de violência total ao qual, sobretudo mulheres negras (e indígenas), estão submetidas. Partimos do pressuposto de que a violência não define tudo. Há caminhos por onde a vida continua, existe, re-existe. Como já sinalizado em suas diversas obras, Denise rompe com as categorias modernas e cartesianas e abre uma importante trincheira não somente para a crítica, quando refletirmos sobre a intrínseca relação entre a subjugação racial e a exploração econômica capitalista, mas também sobre as possibilidade de redecomposição do pensamento (e do agir, já que ambas dimensões são indissociáveis). IMAGEAR é, nesse sentido, uma maneira de pegar as formas de pensar que nos foram ensinadas e reconstruir o pensamento desde outras perspectivas, com renovados significados. É uma forma de discurso disruptivo que propõe outros tipos de imagem, emancipadas da racionalidade moderna ocidental. Para tanto, utilizamos da poética negra feminista que parte fundamentalmente de uma pergunta já que fazer a pergunta é uma forma de desnaturalizar as imagens correntes do senso comum. É um gesto ético, político, crítico. Imagear, portanto, não é um ato exclusivamente racional. É uma forma de promover uma leitura afetada do mundo, questionadora, que nos faz ir além do óbvio. É prestar mais atenção ao que já está dado no entorno, entregando a mente e o corpo para o momento e, deste modo, intervir e reconfigurar o mundo que a gente conhece.

Antes de darmos nome à Coisa, existe uma imagem, uma ideia do que ela é, no sentido benjaminiano e freireano da imagem dialética, da nossa capacidade de ler o mundo antes de qualquer formalidade. É daí que brota o Esperançar que conjugamos coletivamente, onde se semeiam bem-viveres, onde podemos criar outras imagens, outras linguagens para uma outra condição de mundo. É o lugar onde se inscrevem nossos experimentos de quilombagem, lembrando também Beatriz Nascimento. Assim, tratamos de pensar fora da caixa das categorias modernas e, com isso, nos abrimos para este convite potente de mergulhar na Negridade e nas outras formas de experenciar o mundo. O futuro não está distante, numa utopia inalcançável. É ancestral, ja está colocado nas frestas de resistência. A Negridade, nesses termos, é a potência da afirmação de algo que vai muito além da Caixa. E, quando exploramos essas formas, colaboramos também para a destruição da própria Caixa.

É daí que brota a Luz Negra. O resto, o inenarrável é o que se manifesta nos portais abertos pela roda, pela risada das crianças, pelas magias que surgem dos encontros, das cartas de tarot, dos astros, dos reiki, da comida agroecológica, do rezo, do canto, do pandeiro e do violão, da dança, do sorriso, do sonho coletivo. Coisas que estão na ordem do sentir, do viver. E que vivemos e sentimos tudo isso juntas. Implicadas. Afetadas. Com isso, alimentadas, reconfiguramos nossas estratégias e fomos também às ruas de Copacabana, gritar e ecoar. Pois a luta continua. E a Vida que insiste tambem

  • Mariana Bruce, 8 dezembro 2025

O domingo foi de materialização da magia que caracteriza nossa Luz Negra . Primeiro pela sincronicidade do local agendado. Muito antes do ato público " Mulheres Vivas " ter sido agendado e localizado no Posto 5 em Copacabana, nossas Mestras @⁨DFS⁩ e Camila Rocha marcaram a data e o local bem pertinho do ato... Pertinho na geografia (algumas foram a pé ao ato) e na temática.

Temos muito a dizer sobre ontem e aos poucos vamos contando para nossa comunidade maior como foi, como nos sentimos, o que vimos e saboreamos. Durante o evento na Casa Museu Eva Klabin nossa roda de conversa migrou sobre a temática da violência racial de gênero a partir da constatação de que as mulheres negras sobretudo jovens são as maiores vítimas tanto do feminicídio quanto de todas as demais violências. Vou consultar os dados, mas em anos anteriores apenas a violência moral demonstrava indicadores menos desfavoráveis à nós negras.

Contudo é possível que seja resultado de subnotificação - nós não denunciamos violência psicológica e moral. Infelizmente essas formas mais numerosas de violência são naturalizadas e dissolvidas em meio à luta atroz por sobrevivência. Parte do domingo foi conversar sobre violência e os caminhos para sua superação. Terminamos o evento e algumas de nós fomos ao ato público. Eu cheguei um pouco antes junto com @⁨Janete Santos Ribeiro⁩ . Logo que chegamos aconteceu um tumulto.

Houve um chamado do carro de som. A Rogéria Peixinho puxou um repúdio a uma violência que ela do alto não viu. Em seguida uma horda de mulheres brancas passaram gritando com um homem negro. Eu fiz coro: Te cuida seu machista.

A minha xará Silvia Santos do Fórum de Mulheres Negras Cariocas assistiu a esse episódio e quero ouvi-la a respeito. Continuamos ouvindo amorosamente o comando do carro de som.

Passaram alguns minutos. Eis que ocorre outro tumulto. Não lembro se houve mais uma orientação do carro de som. Porém, outro homem estava sendo enxotado por um grupo de mulheres. E peço que adivinhem a cor, adivinhem a dor. Eram mulheres brancas e o homem, como no caso anterior era negro, melhor, era preto, retinto. Pela repetição, mas não só, minha conhecida indignação falou alto. Acho que nosso grupo inteiro de negras e Luzetes tentou interferir. Algo estava fora da ordem.

Está impresso em mim o ódio das mulheres brancas. Um olhar e um gesto denunciando uma pulsão de morte. Queria ter filmado e que bom que não estava com o celular em riste como tantos ficam. Porém os olhares furiosos e os gestos de arminha no rosto do homem preto me causaram uma impressão mais que profunda, dolorosa até. Há tempos tenho ensaiado um pensamento antipunitivista aqui e em nossos espaços presenciais. Não sei bem o que fazer, mas algo precisa ser feito.

Talvez a única interferência efetiva em defesa do jovem preto tenha sido da nossa pós deusa Denise que traçou um símbolo poderoso por paz. O rapaz falou mas não esboçou nenhum gesto mais agressivo. A violência racial e com pitadas de interseccionalidade se desfez.

Ficamos em nossa roda falando a respeito. Eis que uma mulher branca, caucasiana se aproxima e, de certa forma, concorda conosco. E conta que era o quarto homem negro tratado desta forma. Mais alguém acrescentou que o ultimo preto tinha tomado um tapa na cara.

Não vi os episódios disparadores dessas cenas de violência que se tornou racial pelas pessoas envolvidas. De fato não sou testemunha do fato em si, só de uma parte das reações.

Conhecendo e tendo vivenciado tantas violências e violações sei que existem táticas efetivas de deter a violência menos letal. Talvez do carro de som alguém poderia gritar: senta, senta. Vamos expor o machista... Talvez... Eu quero falar do ódio e do punitivismo. Tenho certeza que tanto para o corpo das brancas como para o cotidiano do jovem preto a violência aumentou. Não se desfez.

Eu me pergunto se é isso que a gente quer.

Nós aqui, como Teia de Solidariedade e como Programa Luz Negra temos uma peculiaridade - depositamos nossa prioridade à mulheres negras, mas cultivamos uma coletividade interracial, inter-religiosa. Creio que temos uma obrigação de falar a respeito desses fatos. Precisamos abrir a caixinha da violência e propor novas táticas. Precisamos abrir os olhos para a interseccionalidade dos corpos negros nas ruas, o papel do ódio no adoecimento de nossos corpos e muito mais.

Ontem também conversamos longamente com uma comunicadora preta, a Dandara Suburbana. E hoje, após meu auto-reiki, após refletir, eu acredito que recebemos um chamado que é favorecido por essa interracialidade da Teia ZO.

Hablemos .It all begins with an idea. Maybe you want to launch a business. Maybe you want to turn a hobby into something more. Or maybe you have a creative project to share with the world. Whatever it is, the way you tell your story online can make all the difference.

  • Silvia Regina Nunes Baptista,, 8 dezembro 2025