ReflexÕes

O domingo foi de materialização da magia que caracteriza nossa Luz Negra . Primeiro pela sincronicidade do local agendado. Muito antes do ato público " Mulheres Vivas " ter sido agendado e localizado no Posto 5 em Copacabana, nossas Mestras @⁨DFS⁩ e Camila Rocha marcaram a data e o local bem pertinho do ato... Pertinho na geografia (algumas foram a pé ao ato) e na temática.

Temos muito a dizer sobre ontem e aos poucos vamos contando para nossa comunidade maior como foi, como nos sentimos, o que vimos e saboreamos. Durante o evento na Casa Museu Eva Klabin nossa roda de conversa migrou sobre a temática da violência racial de gênero a partir da constatação de que as mulheres negras sobretudo jovens são as maiores vítimas tanto do feminicídio quanto de todas as demais violências. Vou consultar os dados, mas em anos anteriores apenas a violência moral demonstrava indicadores menos desfavoráveis à nós negras.

Contudo é possível que seja resultado de subnotificação - nós não denunciamos violência psicológica e moral. Infelizmente essas formas mais numerosas de violência são naturalizadas e dissolvidas em meio à luta atroz por sobrevivência. Parte do domingo foi conversar sobre violência e os caminhos para sua superação. Terminamos o evento e algumas de nós fomos ao ato público. Eu cheguei um pouco antes junto com @⁨Janete Santos Ribeiro⁩ . Logo que chegamos aconteceu um tumulto.

Houve um chamado do carro de som. A Rogéria Peixinho puxou um repúdio a uma violência que ela do alto não viu. Em seguida uma horda de mulheres brancas passaram gritando com um homem negro. Eu fiz coro: Te cuida seu machista.

A minha xará Silvia Santos do Fórum de Mulheres Negras Cariocas assistiu a esse episódio e quero ouvi-la a respeito. Continuamos ouvindo amorosamente o comando do carro de som.

Passaram alguns minutos. Eis que ocorre outro tumulto. Não lembro se houve mais uma orientação do carro de som. Porém, outro homem estava sendo enxotado por um grupo de mulheres. E peço que adivinhem a cor, adivinhem a dor. Eram mulheres brancas e o homem, como no caso anterior era negro, melhor, era preto, retinto. Pela repetição, mas não só, minha conhecida indignação falou alto. Acho que nosso grupo inteiro de negras e Luzetes tentou interferir. Algo estava fora da ordem.

Está impresso em mim o ódio das mulheres brancas. Um olhar e um gesto denunciando uma pulsão de morte. Queria ter filmado e que bom que não estava com o celular em riste como tantos ficam. Porém os olhares furiosos e os gestos de arminha no rosto do homem preto me causaram uma impressão mais que profunda, dolorosa até. Há tempos tenho ensaiado um pensamento antipunitivista aqui e em nossos espaços presenciais. Não sei bem o que fazer, mas algo precisa ser feito.

Talvez a única interferência efetiva em defesa do jovem preto tenha sido da nossa pós deusa Denise que traçou um símbolo poderoso por paz. O rapaz falou mas não esboçou nenhum gesto mais agressivo. A violência racial e com pitadas de interseccionalidade se desfez.

Ficamos em nossa roda falando a respeito. Eis que uma mulher branca, caucasiana se aproxima e, de certa forma, concorda conosco. E conta que era o quarto homem negro tratado desta forma. Mais alguém acrescentou que o ultimo preto tinha tomado um tapa na cara.

Não vi os episódios disparadores dessas cenas de violência que se tornou racial pelas pessoas envolvidas. De fato não sou testemunha do fato em si, só de uma parte das reações.

Conhecendo e tendo vivenciado tantas violências e violações sei que existem táticas efetivas de deter a violência menos letal. Talvez do carro de som alguém poderia gritar: senta, senta. Vamos expor o machista... Talvez... Eu quero falar do ódio e do punitivismo. Tenho certeza que tanto para o corpo das brancas como para o cotidiano do jovem preto a violência aumentou. Não se desfez.

Eu me pergunto se é isso que a gente quer.

Nós aqui, como Teia de Solidariedade e como Programa Luz Negra temos uma peculiaridade - depositamos nossa prioridade à mulheres negras, mas cultivamos uma coletividade interracial, inter-religiosa. Creio que temos uma obrigação de falar a respeito desses fatos. Precisamos abrir a caixinha da violência e propor novas táticas. Precisamos abrir os olhos para a interseccionalidade dos corpos negros nas ruas, o papel do ódio no adoecimento de nossos corpos e muito mais.

Ontem também conversamos longamente com uma comunicadora preta, a Dandara Suburbana. E hoje, após meu auto-reiki, após refletir, eu acredito que recebemos um chamado que é favorecido por essa interracialidade da Teia ZO.

Hablemos .It all begins with an idea. Maybe you want to launch a business. Maybe you want to turn a hobby into something more. Or maybe you have a creative project to share with the world. Whatever it is, the way you tell your story online can make all the difference.

  • Silvia Regina Nunes Baptista,, 8 dezembro 2025